A primeira reconhecida pelo MEC, Faculdade de Teologia Umbandista, em São Paulo, terá no final deste ano de 2008 seus 35 primeiros graduados.
Eles cursaram sociologia, psicologia, filosofia, ciências políticas, matemática, artes e lógica. Também estudaram anatomia, botânica, administração templária e sistemas filo-religiosos. Agora, após quatro anos, estão prontos para serem os 35 primeiros bacharéis formados pela Faculdade de Teologia Umbandista (FTU), localizada na Vila Santa Catarina, zona sul de São Paulo, primeira do tipo a ser credenciada e reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC). Para que uma faculdade de umbanda? É o que mais costumávamos ouvir, no começo, de muita gente. Até das redondezas, havia uma certa curiosidade, um pouco de desconfiança”, conta o coordenador do curso, Roger Soares, médico especializado em didática de ensino. Ele mesmo responde: “Estudamos a teologia da umbanda com um enfoque multidisciplinar, passando pela ciência e pela religião e resgatando a cultura popular. O umbandista é o mestiço brasileiro e a faculdade é a valorização dessa cultura.” A explicação fica mais fácil de entender na prática. Primeiro, pelo perfil dos estudantes: brancos, negros e orientais distribuem-se pelo espaço. A mais nova, uma professora de 24 anos. O mais velho, um aposentado de 68. Há advogado, escritora, psicólogo, secretária, fisioterapeuta. Parte deles antigos praticantes da religião, outros adeptos mais recentes. Apenas uma integrante da turma é também sacerdotisa (mãe de santo, na linguagem popular). No primeiro ano, chegaram a ter um padre católico entre os estudantes – ele se inscreveu movido pela curiosidade, mas abandonou as aulas no ano seguinte.
Ao chegarem para as aulas – ministradas no período noturno, de segunda à sexta – passam pelo pátio principal e, antes de tomarem um café na lanchonete ou irem direto para as salas de aula, retiram os sapatos e fazem uma reverência em um dos dois templos do local. Um ritual para equilibrar as forças negativas e positivas representadas por entidades, que, segundo a religião, norteiam o mundo e devem manter-se em equilíbrio.
O que mais prezamos é a tolerância, o respeito à diferença. Não há preocupação em converter as pessoas, em transformar todos em pessoas iguais”, diz Antônio José Vieira da Luz, de 50 anos. Formado em fisioterapia e exercendo sua profissão, ele conta que se matriculou na faculdade movido pela vontade de aprender mais sobre a religião e também pela proposta do curso. “Aqui não distinguimos religião, ciência, cultura, história. Tentamos estudar e discutir todos os assuntos. Isso, para quem fez uma faculdade tradicional como eu, é muito diferente.”
Como em qualquer outra faculdade, porém, há controle de faltas e são feitas avaliações regulares para cada disciplina por meio de seminários, provas escritas, orais, debates e monografias.
O curso, com duração de quatro anos, não é organizado apenas com apresentação de aulas teóricas. Os alunos também aprendem a preparar os rituais e conduzir as cerimônias tradicionais da umbanda, religião que mescla elementos africanos, indígenas, católicos e espíritas.
Desse modo, manuseiam ervas e folhas secas, tradição de uso dos elementos da natureza provavelmente originada em conhecimentos indígenas. Acreditam na reencarnação e na comunicação com entidades transcendentais, assim como os espíritas. A influência africana aparece nas roupas usadas, nas músicas e na presença dos orixás.
No entanto, a proposta do curso não é formar pessoas para comandar templos umbandistas – apesar de os formandos terem capacidade para fazer isso. “Formamos bacharéis em teologia, que podem dar aulas na educação básica, como qualquer outro formado em teologia tradicional. Ele pode também ser pesquisador de religião, continuar seus estudos num curso de pós-graduação”, esclarece Soares.
Mas, ao menos dessa primeira turma de formandos, o interesse não é usar o diploma obtido no mercado de trabalho: todos os alunos já vivem de suas profissões ou exercem outras atividades. “Sou advogado e sou umbandista. Há muitos anos freqüento um terreiro em Guarulhos. Mas, só depois da faculdade, compreendi muita coisa da minha própria religião”, resume Raimundo Santos de Rosa, de 54 anos.
Princípios básicos
Sincretismo: É uma religião definida e nomeada há cerca de cem anos, fruto da mistura de crenças africanas, indígenas, católicas e espíritas. Não é dogmática e há diversas correntes no Brasil. Assim como outros cultos afro-brasileiros, manteve um sincretismo religioso de suas entidades com os santos do catolicismo. Por exemplo, Iansã pode ser também conhecida como Santa Bárbara. Iemanjá seria Nossa Senhora
Orixás: Nome popular mesmo entre quem não conhece a umbanda, os orixás são energias, forças da natureza que se manifestam no mundo e influenciam pessoas. Cada ser humano estaria ligada a um desses orixás, sendo seus ‘filhos’ e manifestando características específicas deles.
Culto: As cerimônias são feitas no templo, terreiro ou centro, outros nomes pelos quais podem ser conhecidos. Quem comanda o ritual é o sacerdote ou a sacerdotisa (pai ou mãe-de-santo). São pessoas mais experientes na religião e vistas como médiuns que comandam a espiritualidade dos outros praticantes durante a sessão .
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